Ao pensar em uma criança ou adolescente afastado da família e vivendo em um abrigo, muitos ainda associam essa situação à ideia de punição, abandono ou mesmo de um fim triste. Mas essa visão está distante da realidade do acolhimento institucional, medida de proteção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que tem como objetivo justamente amparar e cuidar de quem mais precisa.
A Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos oferece um lar temporário e afetuoso para crianças e adolescentes em situação de risco, vítimas de negligência ou violência, enquanto a Justiça avalia as possibilidades de reintegração familiar ou encaminhamento para adoção. “O acolhimento não é punição nem abandono. É proteção. É um espaço onde as feridas são cuidadas com amor, com escuta, com respeito e acolhimento real”, explica Adriana Simões, coordenadora da instituição.
Ela lembra que o acolhimento só ocorre após decisão judicial ou em situações emergenciais, quando o Conselho Tutelar entende que a permanência da criança com a família representa risco à sua integridade. “É um momento delicado, em que precisamos garantir proteção e segurança. O objetivo é que a criança retorne ao convívio familiar assim que possível”, afirma.
Segundo Adriana, nem toda criança acolhida foi abandonada. Na maioria dos casos, os motivos estão ligados a violência doméstica, negligência ou incapacidade temporária dos responsáveis em exercer o cuidado. O acolhimento, portanto, é uma resposta humanizada a uma violação de direitos, nunca uma sentença ou um fim.
“É muito comum que as crianças se sintam culpadas, como se elas fossem o motivo da separação da família. Nosso trabalho é mostrar que a culpa não é delas e reconstruir sua autoestima”, diz. Essa reconstrução acontece por meio de uma equipe multidisciplinar que atua no dia a dia da instituição, oferecendo uma rotina estruturada e individualizada, apoio emocional, escuta, cuidado e, sobretudo, respeito à história de cada criança. Psicólogo, assistente social, pedagoga, educadores e voluntários formam uma rede de proteção que faz toda a diferença.
Contudo, o preconceito ainda é um desafio. Crianças e adolescentes acolhidos, especialmente os mais velhos, muitas vezes enfrentam o estigma social e o julgamento externo. Isso afeta sua autoestima e seu senso de pertencimento. Por isso, Adriana reforça a importância de mudar o olhar da sociedade sobre o acolhimento. “Precisamos entender que o abrigo é uma oportunidade. Uma chance para a criança se fortalecer e voltar para um lar – seja o de origem, o de parentes ou uma nova família por meio da adoção”, defende.
A ajuda da comunidade é fundamental
Adriana destaca que a sociedade tem um papel essencial nessa transformação: acolher, respeitar, apoiar e participar. “O voluntariado é uma forma linda de ajudar. Pode ser diretamente com as crianças, ou em outras ações, como ajudar em eventos, digitar notas fiscais, doar recursos ou tempo”, exemplifica.
A coordenadora faz um convite à população de Valinhos: “Venham conhecer a Casa. Deixem de lado os preconceitos e vejam o acolhimento como ele é: um ato de amor. Quem conhece, entende. E quem entende, apoia.”