Com o fim das férias escolares, a rotina volta a ficar mais intensa na Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos. Para os acolhidos, o retorno às aulas marca mais do que a retomada dos estudos: é momento de reencontrar colegas, compartilhar experiências vividas nas férias e fortalecer os vínculos com a escola.
A preparação para o segundo semestre começa dias antes do reinício do calendário oficial escolar. Com o apoio dos educadores, as crianças e adolescentes organizam materiais escolares e uniformes, em um processo conduzido com cuidado e atenção. Um dos momentos mais significativos é a roda de conversa, onde cada um pode expressar seus sentimentos sobre a volta às aulas, sejam eles de empolgação ou insegurança.
Para a instituição, essa escuta é ainda mais essencial em um período de transição que pode gerar desafios emocionais. “O retorno às atividades pode gerar ansiedade e desafios emocionais significativos. Trata-se de um momento de reestruturação emocional, social e cognitiva, onde a criança precisa reajustar seus ritmos biológicos, reconectar-se com colegas e professores, e readaptar-se às demandas acadêmicas”, explica o psicólogo Gabriel Vieira.
A equipe técnica da Casa da Criança informa que durante as férias, muitas crianças desenvolvem novos hábitos de sono, alimentação e lazer. Ao voltar à rotina escolar, sentimentos como ansiedade, resistência ou tristeza são naturais. Para o psicólogo, é fundamental que educadores, cuidadores e demais adultos estejam atentos e validem essas emoções, oferecendo suporte emocional adequado.
A retomada dos estudos também inclui planejamento. Educadores e acolhidos montam juntos uma escala de horários para as tarefas escolares. Todos os dias há um período reservado para lições de casa e revisão de conteúdos, com acompanhamento individualizado sempre que necessário.
“No nosso serviço de acolhimento, a educação é um pilar fundamental e a vemos como a ponte para a construção de sonhos e um futuro promissor”, afirma Rose Olanda, supervisora do Acolhimento Institucional.
Segundo Gabriel Vieira, esse cuidado é ainda mais necessário para crianças em situação de acolhimento institucional. “O retorno às aulas pode ser ainda mais complexo, pois elas frequentemente lidam com a instabilidade de vínculos e a ausência de um ambiente familiar estável. Nesses casos, a escola assume um papel crucial como espaço de socialização, desenvolvimento e construção de identidade.” Por isso, a comunicação entre a equipe da Casa e os profissionais da escola é essencial para garantir um acompanhamento mais personalizado e sensível.
Com um olhar atento às vivências de cada adolescente, muitos deles com passagens escolares marcadas por desafios, o trabalho busca resgatar a confiança e abrir novos horizontes. A proposta é fortalecer a autoestima, incentivar a descoberta de talentos e reforçar o papel da educação como instrumento de transformação social.
“Acreditamos firmemente que, ao investir na educação e no desenvolvimento de cada adolescente, estamos plantando sementes para um futuro com mais oportunidades e a plena realização de seus sonhos. Trata-se de mais que um retorno às aulas, o que se vive na Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos é a construção diária de um ambiente em que cada criança e adolescente pode sonhar e acreditar em um futuro melhor”, completa Rose.