Dia dos Pais – sensibilidade para lidar com a especificidade de cada caso

No próximo domingo (09/08/22) se comemora o Dia dos Pais no Brasil. Esta tradição tem início nos Estados Unidos, em 1910, como uma homenagem de uma filha ao seu pai, morto na guerra civil. No nosso país é comemorada desde a década de 50, e inicialmente acontecia no dia 16 de agosto, data do dia de São Joaquim, pai de Maria, avô de Jesus Cristo. Posteriormente, a data foi fixada no segundo domingo do mês, e assim segue até os dias de hoje.

Habitualmente, trata-se de um dia para reunir a família e passar bons momentos ao lado dos pais. Mais do que uma data comercial, o Dia dos Pais é também um momento de confraternização, de união, de celebrar junto daqueles que amamos. Mas como esta data é vista por aqueles que estão distantes de seus pais, como é   caso das crianças que estão em instituições de acolhimento? Este é um tema complexo, que passou por diversas mudanças na história recente.

Nas escolas, por exemplo, Dia dos Pais e Dias das Mães tinham como tradição a confecção de alguma lembrancinha para presentear aos pais. Uma gravatinha, um esmalte, um chaveiro, ou somente aquele cartão cheio de lantejoula e papel crepom. Com o passar do tempo, os presentinhos continuaram, mas o nome da comemoração mudou, passando a se chamado de Dia da Família em diversas unidades escolares públicas e particulares. Mas porque ocorreu esta mudança?

O primeiro motivo aconteceu pela mudança no perfil das famílias, no brasil e no mundo. Hoje se fala da importância da diversidade das configurações familiares como maneira de considerar como família modelos que não são necessariamente compostos por um pai, uma mãe e um filho. Diversas pesquisas apontam para o aumento no número de divórcios no país. O número de pais ausentes, termo que define os genitores que negligenciam a paternidade de seus filhos também é crescente, atingindo 6% da população, conforme apontam os dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).

Além das famílias monoparentais, como o caso de mães ou pais que criam seus filhos sozinhos, as políticas de inclusão também consideram importante a mudança na nomenclatura para abranger também os outros modelos que podem existir, como por exemplo: as famílias anaparentais, onde existe a ausência dos genitores, normalmente irmãos que vivem sozinhos; as família reconstituídas, onde ao menos um dos genitores se unem em um novo matrimônio e permanecem com os filhos do relacionamento anterior; a família unipessoal, de pessoas que optaram por viver sozinhas; e as famílias homoafetivas, compostas por casais do mesmo sexo. Existem ainda as crianças que vivem com suas famílias extensas, ou seja, avós, tios, primos etc.

Adotar o “Dia da Família” ajuda a evitar o constrangimento para as crianças e adolescentes que pertencem a um núcleo familiar não tradicional. O abandono de um filho pelo seu pai ou a separação de um casal não deve gerar nenhum tipo de desconforto para os filhos, e é de responsabilidade de todos desenvolver estratégias para que isso seja assegurado. Mas e as crianças do abrigo, pertencem a qual tipo de família?

Em tese, a nenhuma. Elas estão temporariamente afastadas do convívio familiar, e por isso são crianças institucionalizadas. Algumas possuem contato com suas famílias de origem, outras não. Algumas estão incluídas em um cadastro de adoção, aguardando pelo momento em que serão encaminhadas para uma família substituta. É importante lembrar que foram encaminhadas para este serviço em caráter de exceção, por estarem sofrendo algum tipo de violação de direitos. E que deve ser temporário, visto que a convivência familiar também é um direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Desta maneira, em datas comemorativas como esta, deve se ter sensibilidade para lidar com a especificidade de cada caso. Falar de Dia dos Pais em um abrigo pode remeter a criança às memórias de um pai agressor, por exemplo. Além do fato de relembrar o afastamento da família, que por si só já gera sofrimento. Ao mesmo tempo, é impossível não falar sobre o assunto, visto que ele está em todos os lugares, nas redes sociais, nos comerciais de TV, na conversa dos colegas de escola.

Sendo assim, na Casa da Criança de Valinhos, desenvolve um trabalho com os acolhidos para que eles possam parabenizar e presentear não apenas aqueles que são pais, no sentido de genitores, mas no sentido de figura paterna, de pessoas importantes que assumiram este papel de cuidado no período em que estão distantes de suas famílias de origem. Habitualmente, esta figura pode ser um educador (ou educadora) social que está o auxiliando no dia a dia, um outro funcionário do abrigo com quem mantém bom relacionamento, um professor, um voluntário, ou até mesmo um padrinho afetivo, figura tão importante para suprir a ausência de uma família durante este período difícil.

Independentemente da pessoa escolhida, o importante é que tenha alguém com quem possa contar nos momentos difíceis, alguém para compartilhar as dificuldades e conquistas, alguém que possa ampará-la, para pedir um conselho, para dar colo. E, em muitas ocasiões, esta figura acaba sendo mais “pai” – no sentido protetivo da palavra – do que o pai de verdade. E que sendo pai ou não, tendo um pai ou não, todos tenham, no fim das contas, um feliz Dia dos Pais.

O Serviço de Acolhimento Institucional da Casa da Criança é realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de Valinhos, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social. Para mais informações, podem ligar no 19 3871-0546 / 3869-5654, WhatsApp 19 99576-6257 ou acessar o site casadacriancadevalinhos.org.br.

 

ARTIGO ASSINADO POR

Gabriel de Sousa Vieira

Psicólogo

CRP 06/140207